terça-feira, 25 de março de 2008

Medidas podem atingir venda de veículos

O Ministério da Fazenda quer se antecipar a uma possível alta de juros por parte do Banco Central e adotará medidas alternativas para tentar reduzir o crescimento do mercado de crédito, principal fonte de sustentação do consumo. A estratégia foi acertada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não quer que o BC aumente os juros e interrompa o atual ciclo de crescimento, como aconteceu em 2004.Na época, diante de uma demanda aquecida, o BC elevou a taxa Selic (referência para economia) para conter a inflação, e o ritmo de expansão da produção nacional caiu de 5,7% para 3,2% no ano seguinte. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), os diretores do BC reforçaram a ameaça de uma alta de juros.Desta vez, o ministro Guido Mantega (Fazenda) quer evitar a repetição do "stop and go", um movimento recorrente na economia brasileira caracterizado por ciclos intercalados de crescimento e estagnação.Em recente reunião com a área econômica, Lula perguntou quais as soluções para evitar pressão nos preços neste ano e, sobretudo, na virada para 2009, fora a elevação dos juros. Além de medidas para desacelerar a concessão de financiamentos, foi proposta a adoção de incentivos à exportação.Nessa linha, o ministro Miguel Jorge (Indústria e Comércio) deverá anunciar no início do próximo mês uma política de incentivo às vendas externas e a idéia é que contemple as exportações de veículos. Esse é um dos segmentos que mais preocupam o governo por causa do aumento dos prazos dos financiamentos concedidos.Segundo a Folha apurou, Mantega já tem sugestões da sua equipe para conter o crédito nesse setor e em outros que crescem mais rápido. Porém, antes de defini-las, fará discussões com os setores que considera mais problemáticos.Na quarta-feira, está previsto um encontro com os presidentes dos principais bancos privados e com o presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Fábio Barbosa.Uma das sugestões é exigir mais capital das instituições financeiras para fazer frente a empréstimos considerados pelo governo longos demais. O que tem assustado a equipe econômica é que os prazos dos financiamentos estão sendo esticados de tal forma que as garantias perdem o valor antes de o consumidor pagar a dívida.É o que acontece com um carro financiado em sete anos (84 meses), como já se verifica no mercado. Nos cálculos do governo, nesse período, o carro se desvaloriza muito rapidamente e perde, pelo menos, metade do seu valor antes de a dívida ter sido quitada. A avaliação é que isso pode colocar em risco a qualidade das carteiras de crédito dos bancos e, portanto, esse prazo pode ser reduzido para 36 meses.Apesar de reconhecer que o impulso ao consumo está sendo maior do que a capacidade da economia de oferecer bens e serviços, Mantega considera que um aumento dos juros seria como "fazer quimioterapia" no paciente. Além de travar a economia, seria um atrativo para capital externo especulativo, valorizaria o real diante do dólar e puniria ainda mais os exportadores.O ministro reconhece que crescimento econômico em torno de 5%, 5,5% ao ano é sustentável, mas as últimas projeções apontam para a casa dos 6%. Se esse ritmo continuar, poderá haver problemas mais à frente. No entanto, Mantega avalia que, como o Brasil ainda está numa situação favorável, apesar da turbulência internacional, o remédio a ser adotado pode vir em doses homeopáticas e não precisa ser imediato.Segundo relato de assessores que participaram recentemente de reunião na Fazenda para discutir o assunto, Mantega teria dito que "a hora em que está tudo bem é a hora de se prevenir para o futuro".Além da reunião com banqueiros, Mantega terá um encontro, na segunda-feira, com representantes do Instituto Brasileiro de Siderurgia. A preocupação do ministro, neste caso, é avaliar a capacidade de expansão da oferta para evitar o risco de falta do produto e conter mais possíveis pressões inflacionárias. Na sexta-feira, o ministro debaterá a situação com empresários do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).Segundo a Folha apurou, o ministro não está preocupado com a inflação deste ano, que, em sua avaliação, está sob controle. Sua preocupação maior é com o aumento de preços e os anos de 2009 e 2010.Outra preocupação é que o país receba uma enxurrada de dólares, como resultado da queda no juro dos EUA -o que agravaria o quadro de "derretimento" da moeda americana, expressão que ele já usou para a queda do dólar.

Fonte jornal Folha de S. Paulo - Guilherme Barros e Sheila D'Amorim

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