terça-feira, 25 de março de 2008

Bancos organizam cadastro positivo para o setor

Apesar de a inadimplência total do sistema financeiro nacional ter registrado queda de 0,6 ponto percentual em janeiro de 2008 na comparação com o mesmo mês do ano passado, instituições financeiras e a própria Serasa afirmam que deve haver alta dos índices de atraso. A previsão é de que a inadimplência na pessoa física cresça 3,5% este ano, enquanto em 2007 subiu apenas 1,7%. Para combatê-la, os bancos aumentaram os investimentos em cobrança e análise de risco, enquanto a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estrutura um cadastro positivo próprio para o setor.Na pessoa jurídica, a expectativa da Serasa é de que a inadimplência suba 2,5%, sendo que no ano passado o avanço foi de 1,5%. "Os atrasos sobem junto com o crédito, que continuará crescendo em 2008. O principal desafio é a educação financeira, porque o brasileiro está começando a lidar com prazos longos e acumulação de dívidas", afirmou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, durante evento "Gestão da Inadimplência", realizado ontem em São Paulo.Uma das alternativas apontadas como mitigadora do risco de crédito é a criação do chamado cadastro positivo, uma lista de bons pagadores cujo projeto de lei está no Congresso e já é tema de discussões há cinco anos. A idéia é montar um banco de dados de crédito por empresas privadas, que poderiam trocar informações entre si e operar taxas de juros mais baixas para clientes com bom comportamento de pagamento. Enquanto a lei não é aprovada, a Febraban já negocia com os bancos a criação de um cadastro positivo de instituições financeiras. Segundo a Serasa, os bancos têm 42% do total da inadimplência do mercado. A idéia da Febraban é documentar as transações abaixo de R$ 5 mil na medida em que o Banco Central já tem dados dos empréstimos superiores a esse valor desde 2004, explica Adalberto Saviolli, superintendente de gestão de risco do banco PanAmericano."Países como México, Chile e Colômbia já têm mecanismos semelhantes que reduziram a inadimplência. Esperamos que seja aprovado [o projeto da Febraban] aqui em 2008", comenta Saviolli. Ele cita como exemplo o cadastro criado em 2000 pelos bancos PanAmericano, ABN Amro Real, HSBC e Unibanco, junto com a Serasa, que reuniu informações de 50 milhões de consumidores. "A ferramenta esbarrou em uma nova legislação criada na época que exigia autorização formal dos consumidores que entrassem no cadastro, o que encareceu o mecanismo."Para o conselheiro econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), Istvan Kasznar, o tema da inadimplência deve ganhar a preocupação da sociedade especialmente em um momento em que o mundo enfrenta uma crise de crédito, originada nas hipotecas subprime (alto risco) norte-americanas. Segundo ele, os bancos devem se questionar se o consumidor brasileiro está preparado para continuar tomando crédito, mesmo em momento de incertezas. "A queda dos juros permitiu a expansão dos empréstimos e a capacidade de pagamento do tomador. Agora, o cenário começa a mudar", endossou, se referindo à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a Selic devido a pressões inflacionárias. Para ele, há a chance de a crise dos mercados externos atingir o Brasil. "Os EUA não sabem o tamanho da sujeira que colocaram debaixo do tapete."Financiamento de veículosPara o superintendente de financiamento de veículos do Santander, Marcelo Vilaça, existe uma preocupação em relação a uma possível alta dos calotes no crédito para automóveis. "Mas não há nenhuma semelhança com o que ocorre no crédito imobiliário dos EUA, onde se dava crédito a quem não podia pagar."Vilaça explica que um dos problemas enfrentados pelos bancos é o fato de a garantia, o veículo, se desvalorizar rapidamente. "No caso dos carros novos, após 23 parcelas pagas, o valor da garantia é menor que a dívida total do financiamento." Segundo ele, o mercado tende a se auto-regular. "Parar de dançar enquanto a música está tocando é difícil, mas o mercado vai ter de se adequar."

Fonte jornal DCI - Luciana Bruno

Nenhum comentário: