terça-feira, 25 de março de 2008

Risco no crédito para carros

A facilidade de liberação de crédito para a compra de veículos e os longos prazos desse tipo de financiamento podem gerar crise nesse mercado no País, de acordo com economistas como Carlos Lessa, ex-presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O temor é de que o aumento do endividamento do consumidor brasileiro – que também faz outras compras parceladas – provoque uma onda de inadimplência difícil de administrar. Nos EUA, a concessão de empréstimos para aquisição de imóveis a pessoas com histórico de problemas de crédito foi o que desencadeou a atual crise financeira no país.No Brasil, as vendas de veículos aumentaram 33% no primeiro bimestre deste ano em relação a igual período de 2007, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em grande parte por causa da liberação fácil do crédito. Os consumidores podem dividir a compra em até sete anos.Na avaliação de Lessa, a atual situação do segmento de crédito para veículos é ainda mais preocupante que a do mercado imobiliário americano. Isso porque, segundo ele, em caso de inadimplência, o credor pode tomar o imóvel, bem de alto valor. "Já o carro parcelado em 72 vezes só vale uma fração da dívida em caso de falta de pagamento."Juros em alta – Se a tendência de elevação de juros continuar, existe a chance de o nível de inadimplência no Brasil estourar ainda em 2008, na opinião do diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo. "A renda da população teve aumento nominal de 10%, enquanto o volume de crédito cresceu 25% em 2007", afirma. "Os pagamentos estão em dia até agora porque partimos de um nível muito baixo de endividamento do consumidor", acrescenta. De qualquer forma, Solimeo alerta que parcelamentos de 70 meses para veículos exigem cautela.De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef), a inadimplência no financiamento de veículos caiu de 3,24% da carteira em janeiro do ano passado para 3,09% em igual mês deste ano. Mas o fato de parte dos veículos financiados não ter seguro é mais um fator de preocupação. Os especialistas observam que é grande a possibilidade de o comprador de um veículo financiado que não faça seguro deixar de pagar as prestações caso perca o carro (por roubo ou colisão, por exemplo). Há, ainda, os gastos extras (manutenção, combustível, estacionamento e impostos), que tornam as despesas com o carro muito elevadas para alguns consumidores. "Esses itens inflacionam o valor mensal gasto com o veículo", diz Olivier Girard, diretor de transporte, infra-estrutura e logística da Trevisan Consultoria. "E a cada dia a população acorda mais endividada."O aumento da taxa de juros para o financiamento de veículos não impediu o crescimento das carteiras de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e leasing – aí está mais um sinal de alerta, na visão dos especialistas. Segundo dados da Anef, o juro médio subiu de 19,42% ao ano em dezembro passado para 21,27% anuais no mês seguinte. "A tendência é a taxa cada vez mais alta comprometer a capacidade de pagamento do consumidor brasileiro, que já está no limite de endividamento", diz o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Waldir Pereira Gomes.Cenário favorável – Já para o presidente da Anef e diretor do banco Toyota, Luiz Montenegro, a situação atual no Brasil não favorece o aumento da inadimplência no segmento. "Em geral, os compradores que deixam de cumprir os contratos fazem isso depois de mais de dois anos de financiamento, o que diminui muito os prejuízos para a instituição financeira", diz Montenegro.Pesquisa recente do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (Fia), mostra que, na hora de comprar, o brasileiro leva em conta o valor das prestações e não a taxa de juros embutida no financiamento. "Para esse consumidor, mais importante que os encargos financeiros cobrados é que as parcelas caibam no bolso", afirma o coordenador geral do Provar, Cláudio Felisoni de Ângelo.

Fonte jornal Diário do Comércio (SP) - Sonaira San Pedro

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